Belo Monte: um fim social por um meio polêmico

A obra é alvo de muitas críticas à relação com o plano econômico do governo e a sustentabilidade

Vídeo institucional do Governo Federal sobre a Usina Belo Monte

NEIDE ANDRADE

A Usina Hidrelétrica Belo Monte, inaugurada pela Presidente Dilma Roussef no último dia 5 de maio, promete ser responsável por uma carga de 11.233,1 megawatts (MW), o suficiente para atender 60 milhões de pessoas, o que representa 40% do consumo residencial de todo o país. No entanto, a obra ainda é assunto de discordância entre ONGs e profissionais da área ambiental e civil.

De acordo com o Governo Federal, a obra, orçada em R$ 26 bilhões, teve investimentos para a preservação ambiental na casa dos R$ 260 milhões incluindo a preservação de terras indígenas para beneficiar cerca de 3,5 mil índios de 9 etnias às margens do Xingu.

Os impactos ambientais causados pela obra foram previstos no RIMA (Relatório de Impacto Ambienta), emitido pelo Ministério de Minas e Energia. “A Usina Hidrelétrica Belo Monte vai provocar muitas mudanças ambientais na região da Volta Grande do Xingu e na vida das pessoas também. Vai ter mudanças na paisagem, no comportamento das águas do rio Xingu e dos igarapés, na fauna e na vegetação. Novas pessoas vão chegar à região procurando trabalho nas obras e vão precisar de atendimento médico, escolas, segurança e saneamento. Muitos imóveis na área rural e na cidade de Altamira serão atingidos. Por causa disso, muitos moradores terão que morar e trabalhar em outros lugares”, o texto do Ministério continua justificando os impactos ambientais com a promessa de maior qualidade de vida. “Por outro lado, vão ser criados novos empregos, não só ligados às obras da Usina Belo Monte como também para procurar atender às necessidades das pessoas que chegarão à região”.

Para João Loreto, estudante de engenharia ambiental, a Usina traz mais malefícios que benefícios, visto que o investimento econômico traz poucos retornos do ponto de vista do meio ambiente. “Eu acho inviável no sentido de que nós apostamos na matriz energética centralizada ao utiilizar uma hidrelétrica. E isso tem sido bastante falho porque sofremos com secas em todo o território do país. Acho que a solução mais sustentável é aplicar o dinheiro de maneira inteligente em uma matriz energética descentralizada, energias eólicas e solares, já que o nosso país tem grande potencial para isso”, destaca Loreto.

O regime de secas também é uma preocupação da ONG Greenpeace Brasil em seu relatório Hidrelétricas da Amazônia, um mau negócio para o Brasil e para o mundo. “Um dos grandes erros cometidos pelos proponentes de novas usinas hidrelétricas na Amazônia é assumir que o regime climático permanecerá inalterado. O Brasil já tem sofrido um aumento na frequência das secas e passou por um racionamento de energia em 2001 por conta do baixo nível dos reservatórios, conforme já mencionado”.

Em 2013, em entrevista à TV Cultura, Diretor de Energia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Celso Kinijnik, destacou que a Usina é um instrumento para o crescimento econômico do Brasil. “Nós tiramos dois milhões de brasileiros que não tinham energia elétrica, que saíram da escuridão e agora têm energia. Mas além disso a gente sabe que o Brasil precisa dessa energia para manter o ritmo de crescimento que é desejado por todo mundo em torno de 5%”, disse.

O Greenpeace Brasil condenou a obra como uma “exploração descontrolada” dos recursos naturais da Amazônia e, ainda, destacou que mais de 750.000 km² de florestas já foram desmatados por atividades econômicas como produção agropecoária, mineração e hidrelétricas. De acordo com a ONG, essas práticas “colocam em risco a biodiversidade incomparável da região, forçando o deslocamento de comunidades tradicionais e povos indígenas de suas terras e agravando as mudanças do clima global” e continua dizendo que “em muitos casos, como em Belo Monte, também haverá um desmatamento significativo na área em torno da barragem, relacionado a sua construção e ao fluxo de migrantes atraídos pela abertura da área para o desenvolvimento econômico”.

A ONG frizou, ainda, que energia hidrelétrica na Amazônia pode ser pouco aproveitada devido às alterações climáticas durante parte do ano, além de não considerarem uma energia limpa, com resíduos comparáveis aos de energia fóssil, em alguns casos. “Além das hidrelétricas na Amazônia não oferecerem uma solução de energia limpa, não é certo que elas sejam uma solução viável ou mesmo necessária para a produção de energia do país. Como resultado das alterações climáticas, os rios da região devem apresentar reduções dramáticas nas vazões, sendo pouco provável que as novas barragens possam atingir a produção anual de energia para a qual foram projetadas inicialmente”, diz o relatório.

Crisiane Guiselini, professora de Energia na Agricultura da UFRPE, é a favor da Usina do ponto de vista econômico e social. “Acredito que a Usina de Belo Monte traz benefícios para a população regional e ajuda a garantir a segurança energética brasileira. Sou a favor de uma matriz energética que seja próxima do centro consumidor e mais diversificada, quando comparada a uma matriz mais conservadora utilizada até meados dos anos 2000”, disse Guiselini.

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